A dispareunia é considerada um transtorno funcional gênito-pélvico, especificamente feminina, de etiologia multifatorial e multissistêmica; definida como dor recorrente ou persistente na relação sexual, que pode ser antes, durante ou depois do ato sexual (APA, 2013). Essa dor é capaz de produzir sofrimento permanente à mulher, o que leva a alteração negativa da sua qualidade de vida (Pandochi et al., 2018).
A dispareunia também pode ser classificada de disfunção sexual feminina. Essas disfunções, que podem se instalar por períodos curtos ou de longa duração, são descritas como complicações de ordem anatômica, fisiológica ou emocional que comprometem a qualidade de vida afetivo-sexual (Wolpe ;2015). Trindade, 2017, classifica essas disfunções como problemas de saúde pública em decorrência dos prejuízos e desconfortos ocasionados pela dor.
De forma didática, a dispareunia pode ser classificada em superficial ou profunda e em primária ou secundária (Battut e Nizard, 2015; Pandochi et al., 2018). A dispareunia superficial é uma dor localizada na vulva ou na entrada vaginal. A dispareunia profunda é uma dor percebida dentro da vagina ou na pelve inferior que, geralmente, é associada à penetração profunda. A dispareunia primária ocorre no início do intercurso sexual e a secundária ocorre após algum tempo de relação sexual sem dor (Oshinowo, 2016; Mendonça et al., 2012).
A incidência das várias disfunções sexuais é imprecisa, visto que existem diferenças de nomenclatura, preconceitos e o aspecto íntimo do problema. Por conta destas dificuldades, a coleta de dados não é, estatisticamente, significante (FREBASGO, 2015). Segundo Trindade, 2017, o percentual de mulheres que desistem de procurar um profissional da saúde, com queixas de dor e disfunção sexual, é alto. Isso advém da vergonha, do medo ou de frustações por tratamentos anteriores sem resultados. Entretanto, dados mostram que 40% a 45% das mulheres apresentam alguma queixa de disfunção sexual, e que a dispareunia possui uma incidência variável que parece progredir com o envelhecimento (Mesquita et Carbone, 2015).
Geralmente, essas mulheres sofrem em silêncio e sentem que sua dor não foi avaliada ou considerada importante pelos profissionais. Estudo desenvolvido por Abdo e Brasil, em 2016, mostrou que no Brasil 17,8% das mulheres referem dor na relação sexual.
A dispareunia pode ser difícil de diagnosticar e exige uma abordagem multidisciplinar. Os tratamentos envolvem abordagens multimodais que incluem: medicamentos, terapia cognitivo-comportamental, fisioterapia e, em alguns casos, cirurgia (SORENSEN et al, 2018). Porém, são escassos os estudos que abordam a eficácia de tratamentos não medicamentosos na dispareunia. O Tratamento Manipulativo Osteopático (TMO), por ser uma abordagem holística, com conhecimento de anatomia, fisiologia e da inter-relação entre estrutura e função - que compreende os cinco modelos: biomecânico, respiratório/circulatório, neurológico, biopsicossocial e bioenergético - pode proporcionar uma abordagem de boa aceitação e com bons resultados. O TMO é centrado no indivíduo, não é invasivo e está associado ao cuidado e promoção da saúde (OMS, 2010). Segundo Tettambel (2005) a partir da identificação dos fatores mecânicos e da disfunção somática, o TMO pode corrigir as alterações funcionais e contribuir para o restabelecimento dos indivíduos que sofrem de dor pélvica crônica. Diante disso, parece pertinente e relevante, a investigação sobre a eficácia do Tratamento Manipulativo Osteopático em mulheres com dispareunia.